quarta-feira, 17 de abril de 2013

Inventados de apetites


Hoje foi um dia bom. Olhei ao meu redor, como um iludido que recobra sua noção de realidade e me reconheci no espelho. Há tempos não me via sorrindo sozinho.
Porque assim é a nossa natureza: as coisas ruins vão se camuflando diante de tantas outras sensibilidades. É a lei da primazia da vida. Isso é divino. É providencial e nos consente viver e tolerar certas moléstias naturais de nossa existência. Talvez seja por isso que sempre ouvimos dizer que nós homens somos malcontentes por natureza. Seres insaciáveis que sempre busca algo ou alguma coisa que nos sacuda pra frente. Verdadeiramente, mais que de pesares humano nós vivemos. Porque o que seria da vida sem essa autodefesa? As minhas táticas, por exemplo, (que são multíplices), dou-as apenas um nome: “motivo maior”, que eventualmente camufla uma série de outras por trás. Portanto saio hoje daquele tirocínio de “bulimia”, que durante esse tempo parecia meu único inimigo, me dando conta de ter fome, - não de carne! Uma fome diferente daquela que sentia.   
Hoje, um amigo apareceu aqui em casa e me convidou a falar desses “motivos maiores”. Embora tenha sido uma visita presumidamente desinteressada, começou falando de sua vida, de sua esposa e logo descambou para o tema de sua orexia, justamente daquela que ando jejuando ultimamente. Contou-me desvairadamente uma história de não sei qual jantar dando-me detalhes sórdidos dessa pândega. Eu, lógico afastei o assunto, mas não passaram dez minutos e já ele me apresenta outra mesa e uma receita de carne torrada, toucinho e outras coisas... - Meu Deus, como a minha carne é fraca! Eu me dei conta perfeitamente de quanto são vãs essas fantasias de fome, mas não consigo arrancar-me da lei ordinária da carne. – Afinal somos feitos de concupiscência e apetites. Mas enfim, se ele soubesse que só comer não vale a pena. Se isso nos trouxesse felicidade... Se neste mundo existe algo certo, o certo é que nunca estaremos realizados. Sempre a fome volta, como tudo volta. E volta violenta!            
Bom! O fato é que, a priori já estou me empanturrando de outras coisas  (ao menos por alguns meses), não há conflitos, me sinto bem e organizado. Consigo ponderar em meus estudos, o que raramente acontecia. Durante esse tempo posso ser feliz a maneira dos homens abastecidos. Não é apenas por causa do espelho, do amigo e do motivo maior que hoje foi um dia bom! Também tive sinais de uma agradável surpresa. Além de rir pra caramba, com esse meu amigo, vi um fabuloso panelão daqueles de cinquenta litros, desses de cozinha industrial. Isso é um bom sinal!

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