A verdade é que quando penso em você a minha
paz começa a brigar com a saudade. Num canto ou noutro da casa me pego olhando
um retrato, como se nele guardasse algo da gente. Um olhar, um sorriso quieto,
uma expressão que não muda, mesmo diante do meu choro você permanece lindamente
sorrindo, como se a vida pra você não tivesse estacado. Essa é a pior conclusão!
É saber que a vida segue. Mesmo sem mim, sua vida segue. É tão difícil encarar
que certas pessoas têm essa habilidade de entrar e sair da vida do outro sem
prejuízos. Isso me causa inveja. Às vezes queria ser irracionalmente humano
para aceitar a perda sem estragos. Aceitar o fim como um começo. Aceitar seu
abraço como o de um amigo, aceitar de você um eu te amo fraterno, dividir contigo
momentos e emoções sem me prender a sua vida. Mas ainda estou preso! Permaneço
acorrentado a esse sentimento que me tira as forças, a paz, a alegria... É
estranho! Mas o amor ganhou outra cara. Como um algoz que massacra o inimigo, o
amor que sinto por você hoje esmigalha um pouco de mim todo dia. O que antes me
fazia sentir feliz, hoje me diminui a um espectro, a um nada que caminha num
imenso oco de sua existência. Porque hoje meus olhos já não tem aquele brilho.
Eles secaram. Não tenho mais vontades e fico aqui, sozinho, perdido nesse
imenso nada. Porque sem você a minha vida não tem nada mais que um deserto e uma
lembrança daquele gosto que eu tinha na minha boca quando sentia que você me
queria. Aquele sonho era tão bom, tão bonito, tão infinito... E agora, só o que
tenho são estas lembranças, e nelas você parece me dizer: - Estou aqui!
Se você não voltar mais pra mim sinceramente
nunca mais serei feliz.